Fake News (notícias falsas)
PÓS-VERDADE E NOTÍCIAS FALSAS: A ERA DAS FAKE NEWS E DA DESINFORMAÇÃO
UM POUCO MAIS SOBRE O REAL IMPACTO DAS NOTÍCIAS FALSAS NO MUNDO E NA POLÍTICA
Dois acontecimentos que tiveram relevância internacional em 2016 foram o Brexit – a saída do Reino Unido da União Europeia – e as eleições presidenciais dos EUA. Além de serem os principais motivos do crescente uso da palavra pós-verdade, também foram onde o próprio fenômeno das notícias falsas foi bastante intenso.
Em se tratando de política e da polarização ideológica generalizada, as notícias falsas foram usadas para causar tumulto e reforçar posicionamentos – ou mesmo, acentuá-los. No caso do Brexit e das eleições americanas, os nervos estavam ainda mais à flor da pele por serem assuntos determinantes para o futuro daqueles países.
Devem ser considerados também que as redes sociais e seus algoritmos – declarados recentemente como ineficientes (Facebook) – formam “bolhas” sociais – e também ideológicas. Esses algoritmos reúnem no painel de notícias do Facebook, por exemplo, as pessoas com quem os usuários mais interagem e os assuntos mais relacionados ao que eles publicam ou “curtem”, assim como notícias, reportagens, vídeos e histórias sobre posicionamentos que os usuários já endossam, também politicamente. O algoritmo, portanto, não dá lugar ao contraditório. A “visão de mundo” dos usuários é confirmada repetidamente e, se algum “amigo” (contato) desses usuários compartilha uma “notícia”, mesmo que falsa, outros podem acreditar. Esse fenômeno une a notícia falsa à pós-verdade e foi um episódio recorrente no Reino Unido e nos Estados Unidos em 2016.
Em 2016, 33 das 50 notícias falsas mais disseminadas no Facebook eram sobre a política nos Estados Unidos, muitas delas envolvendo as eleições e os candidatos à presidência. Durante a campanha presidencial, notícias falsas foram espalhadas sobre os dois candidatos: o atual presidente republicano Donald Trump e a democrata Hillary Clinton. No monitoramento de 115 notícias falsas pró-Trump e 41 pró-Hillary, os economistas Hunt Allcott e Matthew Gentzkow concluíram que as postagens pró-Trump foram compartilhadas 30 milhões de vezes, enquanto as pró-Hillary 8 milhões.
Sobre Trump, a “notícia” de que o Papa Francisco havia apoiado sua candidatura e lançado um memorando a respeito foi a segunda maior notícia falsa sobre política mais republicada, comentada e a qual as pessoas reagiram no Facebook em 2016. Outra notícia falsa, diretamente relacionada a Trump, afirmava que ele oferecia uma passagem de ida à África e ao México para quem queria sair dos Estados Unidos – a postagem obteve 802 mil interações no Facebook. Quanto à Hillary Clinton, uma notícia falsa com alta interação no Facebook – 567 mil – foi de que um agente do FBI (órgão de investigação federal) que trabalhava no caso do vazamento de e-mails da candidata foi supostamente achado morto por causa de um possível suicídio.
Quanto ao Brexit, houve diversas informações truncadas disseminadas pela campanha Vote Leave – em tradução livre, “vote para sair” – para a saída do Reino Unido da União Europeia. As questões envolviam principalmente as políticas de imigração da UE e questões econômicas. O jornal The Independent reporta que um dos líderes da campanha pelo Brexit afirmou que mais 5 milhões de imigrantes iriam ao Reino Unido até 2030 por conta de uma licença dada a 88 milhões de pessoas para viver e trabalhar lá – uma informação que não tem fundo de verdade. Um dos pôsteres da campanha clamava: “Turquia (população de 76 milhões) está entrando na UE” – quando, na verdade, o pedido de entrada na UE pela Turquia é antigo e não mostra sinal de evolução.
Para as Eleições de 2018, não acredita-se que as notícias falsas poderão de fato mudar o resultado da eleição em si, como discutido no evento da Revista ÉPOCA. Mas é claro que os boatos enfraquecem e distraem a população do assunto que realmente importa: os planos de governo, as ideias de políticas públicas, o modelo de gestão. Essa questão é tão latente que até órgãos de defesa do governo federal, como o Ministério da Defesa e a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), junto ao TSE – Tribunal Superior Eleitoral, preparam uma força-tarefa para combater as notícias falsas no período eleitoral em 2018.
NOTÍCIAS FALSAS E MANIPULAÇÕES VÍDEO #01 DE #04
Visando esclarecer os eleitores para as Eleições de 2018, o historiador Leandro Karnal fala sobre as fake news, que abrem espaço e um novo o mercado de manipulação, boatos e mentiras. Esse é o primeiro (#01) – de #04 – vídeos da série sobre Pós-Verdade, Fake News e o fenômeno das Notícias Falsas no mundo contemporâneo, por meio das Redes Sociais.
VÍDEO #02 de #04
No segundo bloco, o historiador Leandro Karnal fala sobre a dificuldade em verificar informações nas redes sociais e relação das pessoas com a zona de conforto dentro de debates.
VÍDEO #03 de #04
No terceiro bloco, Leandro Karnal fala sobre o sucesso de Donald Trump nas eleições americanas e a capacidade da internet em dar acesso a uma quantidade muito grande de informações.
VÍDEO #04 de #04
No quarto e último bloco, Leandro Karnal fala sobre a polarização no Brasil e a rejeição ao discurso político tradicional.
POR QUÊ NOTÍCIAS FALSAS SÃO CRIADAS?
Há diversos fatores para a criação de notícias falsas. Alguns deles são a descrença na imprensa e a utilização das fake news como um negócio, para atingir objetivos de interesse próprio. Em estudos sobre os motivos pelos quais são feitas as fake news, chegou-se ao seguinte resultado: os motivos podem ser um jornalismo mal-feito; paródias, provocações ou intenção de “pregar peças”; paixão; partidarismo; lucro, um dos principais, constatado recentemente pelo Correio Braziliense; influência política e propaganda.
Quanto ao lucro, por exemplo, os estudos se referem às notícias falsas terem se tornado um grande negócio. Há realmente quem lucre com esse advento, com ferramentas de propaganda gratuitas e com as manchetes chamadas de “iscas de clique” (call to action). Foi o caso de um brasileiro que chegou a fazer 100 mil reais mensais de lucro com sites de notícias falsas, segundo um mapeamento da Folha de São Paulo.
A respeito da veiculação desses conteúdos, pode-se dizer que são disseminados principalmente pela internet, por meio das redes sociais, portais falsos de notícias e grupos de aplicativos de mensagem – WhatsApp é o mais comum -, amplificados até por jornalistas que passam informações truncadas às pessoas. Outras notícias falsas são disseminadas por grupos diversos – de política, de religião, de crenças variadas – que fazem comunidades, páginas no Facebook e sites para compartilhar suas crenças e (des)informar as pessoas de acordo com sua fé. Existem também outras maneiras mais sofisticadas, em que há uso de robôs (bots) e mecanismos da internet próprios para disseminar conteúdos falsos.
COMBATENDO AS NOTÍCIAS FALSAS
Para evitar um mundo que vive na pós-verdade, é preciso combater e prevenir a disseminação de notícias falsas por meio de 03 (três) pilares:
- Os diferentes tipos de conteúdos que estão sendo criados e compartilhados;
- As motivações dos que criam esse conteúdo;
- As maneiras e meios com que esses conteúdos são disseminados.
07 TIPOS DE NOTÍCIAS FALSAS IDENTIFICÁVEIS
Para sanar o primeiro item e identificar que tipo de conteúdos estão sendo criados e compartilhados, sugere-se uma lista com 07 (sete) tipos de notícias falsas, onde é possível identificar e combater nas redes / mídias sociais:
- Sátira ou paródia: sem intenção de causar mal, mas tem potencial de enganar;
- Falsa conexão: quando manchetes, imagens ou legendas dão falsas dicas do que é o conteúdo realmente;
- Conteúdo enganoso: uso enganoso de uma informação para usá-la contra um assunto ou uma pessoa;
- Falso contexto: quando um conteúdo genuíno é compartilhado com um contexto falso;
- Conteúdo impostor: quando fontes (pessoas, organizações, entidades) têm seus nomes usados, mas com afirmações que não são suas;
- Conteúdo manipulado: quando uma informação ou ideia verdadeira é manipulada para enganar o público;
- Conteúdo fabricado: feito do zero, é 100% falso e construído com intuito de desinformar o público e causar algum mal.
DICAS PARA VERIFICAR SE UMA NOTÍCIA É FALSA OU NÃO
A Federação Internacional das Associações e Instituições de Bibliotecárias (IFLA) também publicou dicas para ajudar as pessoas a identificarem notícias falas. São elas:
- Considerar a fonte da informação: tente entender sua missão e propósito olhando para outras publicações do site;
- Ler além do título: títulos chamam atenção, mas não contam a história completa;
- Checar os autores: verifique se eles realmente existem e são confiáveis;
- Procurar fontes de apoio: ache outras fontes que confirmem as notícias;
- Checar a data da publicação: veja se a história ainda é relevante e está atualizada;
- Questionar se é uma piada: o texto pode ser uma sátira;
- Revisar seus preconceitos: seus ideais podem estar afetando seu julgamento; e
- Consultar especialistas: procure uma confirmação de pessoas independentes com conhecimento.